Resolvi fazer uma limpeza nas minhas coisas antigas, abri uma gaveta e encontrei você. Tomei um baita susto, afinal, eu jurava que eu já tinha te jogado fora há muito tempo. Talvez junto com aquelas roupas antigas que eu doei, quando os móveis da sala foram trocados ou quando eu dei um fim naquela minha papelada toda da época de faculdade.
Mas não, você estava lá, paradinho na minha gaveta. Abri uma porta de armário e outro susto, tinha você de novo.
Achei engraçado, uma coisa meio aquela música da Adriana Calcanhoto que eu amava cantar na “sua época”, que ainda tinha você na sala e tal. E olha que louco, dessa vez tinha você mesmo dentro de um livro! Quem diria, você em livros! Mas quem mandou você ficar aí? Não fui eu que botei! Lembro bem, eu juntei todos os caquinhos que você deixou de você mesmo, e joguei tudo fora daquela vez, e daquela outra, e daquela terceira também! Agora, forças sobrenaturais te refizeram e te espalharam pelos meus “guardados”? Tem que ver isso aí, porque tá errado!
Veja bem, você não combina mais com a decoração da casa. Não combina mais com minhas roupas de cama, eu troquei tudo depois que você foi embora, porque seu gosto era muito duvidoso. Não que eu tenha essas coisas de classe social, sabe? Mas você é meio, sei lá, “povão” demais pra mim. Sem querer ofender, claro. Você não deveria estar mais entre os meus cds, afinal você sempre foi mais “samba e pagode” e não tem nenhum desse gênero aqui. O mais perto disso que eu cheguei na vida foi um carnaval em Salvador. E sem você.
Você não combina com os meus gostos, com os meus amigos, com as viagens que eu quero fazer. Você não combina com a minha rotina e eu, depois de te guardar aqui nesses armários, tenho certeza absoluta que já te joguei fora antes. E vou jogá-lo de novo e quantas vezes forem necessárias, junto com esses cacarecos velhos que ficam perdidos pelos armários da gente. Coisas que definitivamente, não combinam mais com o ambiente da minha vida.
Então me responde: Que diabos você tá fazendo aqui ainda???