domingo, 16 de outubro de 2011

Guardados

Resolvi fazer uma limpeza nas minhas coisas antigas, abri uma gaveta e encontrei você. Tomei um baita susto, afinal, eu jurava que eu já tinha te jogado fora há muito tempo. Talvez junto com aquelas roupas antigas que eu doei, quando os móveis da sala foram trocados ou quando eu dei um fim naquela minha papelada toda da época de faculdade.

Mas não, você estava lá, paradinho na minha gaveta. Abri uma porta de armário e outro susto, tinha você de novo.

Achei engraçado, uma coisa meio aquela música da Adriana Calcanhoto que eu amava cantar na “sua época”, que ainda tinha você na sala e tal. E olha que louco, dessa vez tinha você mesmo dentro de um livro! Quem diria, você em livros! Mas quem mandou você ficar aí? Não fui eu que botei! Lembro bem, eu juntei todos os caquinhos que você deixou de você mesmo, e joguei tudo fora daquela vez, e daquela outra, e daquela terceira também! Agora, forças sobrenaturais te refizeram e te espalharam pelos meus “guardados”? Tem que ver isso aí, porque tá errado!

Veja bem, você não combina mais com a decoração da casa. Não combina mais com minhas roupas de cama, eu troquei tudo depois que você foi embora, porque seu gosto era muito duvidoso. Não que eu tenha essas coisas de classe social, sabe? Mas você é meio, sei lá, “povão” demais pra mim. Sem querer ofender, claro. Você não deveria estar mais entre os meus cds, afinal você sempre foi mais “samba e pagode” e não tem nenhum desse gênero aqui. O mais perto disso que eu cheguei na vida foi um carnaval em Salvador. E sem você.

Você não combina com os meus gostos, com os meus amigos, com as viagens que eu quero fazer. Você não combina com a minha rotina e eu, depois de te guardar aqui nesses armários, tenho certeza absoluta que já te joguei fora antes. E vou jogá-lo de novo e quantas vezes forem necessárias, junto com esses cacarecos velhos que ficam perdidos pelos armários da gente. Coisas que definitivamente, não combinam mais com o ambiente da minha vida.

Então me responde: Que diabos você tá fazendo aqui ainda???

domingo, 9 de outubro de 2011

Comédia - depois - Romântica

Assisti um filme hoje em que a mocinha - típica jovem com problemas amorosos e frustrações vindas da infância - dizia que queria que as coisas na vida dela acontecessem como em um filme. E aconteciam. Como uma comédia romântica, assim como era o filme em questão.

Amigos, que faziam sexo casual e se apaixonaram. Perfect! E no final tinha tudo aquilo que eles mesmo tiram sarro durante a história: Os dois percebendo que se amam, casualmente se encontrando, a sonoplastia para o encontro do casal, a declaração dos dois se reconciliando, o beijo apaixonado, o final feliz. Tinha até um flashmob só para ela! E depois uma música pop sem conexão alguma com a história termina o filme e você vai embora feliz. 

E ninguém sabe o que acontece depois. Devia ter um filme, que contasse o pós das histórias fofas de amor. Será que esses casais de comédia romântica casaram?  Brigaram? Jogaram a toalha molhada em cima da cama? Trairam? Tiveram filhos? Ficaram sem grana? Foram embora pra Brasília com os gêmeos, tipo aquela música do Eduardo e da Mônica? A mocinha acorda descabelada e de TPM alguns dias do mês? O galã para de treinar e fica com barriga de chopp? Que música o sonoplasta escolheria para o depois do fim?

Todo mundo quer uma vida de comédia romântica. Fofa, mas com algum conflito para não ser monótona, que se resolva sozinho depois. E pronto. Felizes para sempre. Todo mundo quer, eu quero. E aí vira um eterno "desejar", porque não tem. O filme da nossa vida é de outro gênero. E eu acho que quem deveria dirigir era o Woody Allen.

Talvez você se apaixone pelo galã do sexo casual. Mas ele só vai querer te comer e no máximo se tornar seu brother. Talvez você sofra com isso. Talvez você conviva com isso. Talvez você mande o galã pra puta que pariu ele. Talvez você desista desse e encontre outro, e outro, e outro.

Você não vai acordar bonita e maquiada e possivelmente, nem ter seu próprio apartamento. Seu emprego não vai ser exemplar. Mas ele pode até ser divertido. Nem você vai superar seus traumas com a sua família. Você vai afogá-lo mais e mais junto com os outros bloqueios emocionais que você esconde. Ou vai resolver na terapia.

E vai continuar a assistir a mil comédias românticas. Rir assistindo, chorar assistindo. Chorar muito na TPM assistindo. Sonhar assistindo, pensando porque a sua vida não é daquele jeito. Mas sabendo que no fundo, ela nem deveria ser mesmo.