1- Ser professor. Talvez nem todo mundo saiba, mas eu sempre quis ser professor. Quem leu Além das Portas, talvez desconfie, mas indo além, eu queria ser professor de Educação Física. Minha mãe é, dá aula até hoje na universidade e eu fui criado lá, até ginástica esquizofrênica eu fiz (sei que o nome é outro, mas termina em "ênica", e pra quem chamou afundo com potência de afundo com substância, tá liberado) lá no início dos Anos 80, mas fui convencido a desistir. Da Educação Física, não de dar aulas. Só que não rolou. Até que um dia em 2006, há 5 na BS, o Tadeu, que é um dos integrantes do zeitgeist original da empresa, me liga falando que estava montando tipo uma escola de formação de gestores e coordenadores de academia e queria um módulo jurídico, sugerindo que eu fosse esse cara. E sem ele saber (apesar de que eu acho que já falei), acabou realizando um sonho que dura até hoje: duas vezes por ano - mais ou menos - sou "professor" pra um pessoal, e assim como o jantar semestral da cornetagem que rola com o corpo docente dessa escola, é uma das coisas que eu mais gosto de fazer.
2- Convivência com o Paulo. As pessoas tem vícios, dos mais variados tipos e eu tenho vários. Um deles é em inteligência. Não consigo não me aproximar e tentar forçar uma "amizade" com gente inteligente. É claro que INTELIGÊNCIA tem vários significados e enfoques, mas todos eles me encantam, desde inteligência específica até um certo tipo de inteligência meio "evil" - tá, sei que não devia, papai do céu castiga, mas eu gosto. E na BS, convivi no ambiente mais inteligente possível. Eu acredito que inteligência seja algo contagioso e até meio magnético. De todos os "outliers" com quem convivi lá, se destaca o Paulo. Fui, durante muito tempo e na maioria das vezes pelas costas, acusado de ser puxa saco ou subserviente em excesso, a Laura mesmo diz que eu não consigo simplesmente GOSTAR ou SER AMIGO, eu tenho que me comportar como FÃ. E era assim. Certo, errado? Caguei. O Paulo talvez seja a pessoa mais inteligente com quem eu convivi e aprendi muita coisa com ele, mas muita mesmo! É que eu acho que faz parte da construção do indivíduo e da edificação do caráter, que caguem na sua cabeça. Sei que os adeptos do Piaget, Montessori e neohippies construtivistas vão achar um absurdo, mas levar cagada na cabeça é fundamental! Claro que você precisa dosar até quando vale a pena usar o shampoo fecal, mas eu prefiro assim. Encurta o caminho e toda vez que eu vejo alguém com um discurso muito bonito pra cima de moi, o imagino escondendo um tubão de KY e as mais malignas e perversas intenções que envolvem a participação involuntária do meu cu. Uma vez, ele disse que eu jamais seria líder de porra nenhuma e que foi um erro me mandar para o LAV, mas como eram 9 e ele gosta de números redondos, me mandou. Na época, fiquei veadinhamente magoado, mas depois, reconheci que deveria agradecê-lo. Porque ele tava certo, primeiro. E segundo, porque existe um milhão de possibilidades que não envolva ser LÍDER ou algo que na maioria das vezes tem a ver com essa filosofia de funcionário do mês do Mc Donalds e retrato na parede. Devo muita coisa e gratidão ao Paulo especificamente, e costumava dizer a ele que considerava um dos meus patrimônios intangíveis o fato dele, uma pessoa desconfiada por natureza, assinar sem ler os papeis que eu levava pra ele.
3- A Rachel. Eu e a Rac éramos primos distantes que, quando se encontravam, dava merda (no bom sentido). Me lembro como se fosse hoje quando vim ver o show do U2 em São Paulo e ela já me viu e foi falando: "Meu, nós vamos sair logo mais com uma amiga minha, falei mó bem de você, mostrei foto, tá no esquema" - claro, época em que eu era magrão e nadava abaixo de 47, mais fácil armar esses esquemas. Mas a gente sempre se curtiu demais, sempre deu muito certo, sempre foi muito parecido em muitas coisas (boas e ruins), e de repente, estávamos ali, trabalhando juntos, nos vendo todos os dias, compartilhando um monte de coisas, inventando apelidos engraçados pros desafetos e, principalmente, se ajudando. Eu fui uma pessoa muito "ajudada", acho que o espírito de solidariedade das pessoas aflorava em virtude dos pais pouco convencionais que eu tive, e tenho muito o que agradecer eternamente a um monte de gente. À Rac, tenho muito, pra sempre, e não vai ser aqui que vou fazer, mas ela foi uma das coisas essenciais na minha passagem pela BS e que vou levar pra sempre.
3.1 - Ela, o Paulo, o Preto, o Fernando, Rafa, Edu, Christian, Magoo, Alê Barros, Dutrinha, Crocco, Marcelino, Rogério, Sandrinho, Berg, Ivani, Paty & Tati, Capi, Cebola, Robin e Sandrão. Essas pessoas foram essenciais na minha vida enquanto ela esteve diretamente ligada à BS. Cada uma dessas pessoas me ensinou algo diferente e como diz o Nick Hornby, entraram na lista de pessoas que mudaram definitivamente a minha vida pra melhor.
4- O time de Sorocaba. Isso foi a coisa que eu mais gostei de fazer nos meus 10 anos de BS: "liderar" o Time de Sorocaba. E eu tenho pra mim que foi uma coisa tão bacana e tão bem feita, que o Paulo pudesse estar só um pouquinho errado no que ele disse, mas não vem a caso. Foi uma tremenda experiência que eu nunca vou esquecer. Ainda que sempre me lembre de ter praticamente negligenciado metade do segundo ano de vida do meu filho e ter achado mais importante finalizar uma reunião do que obter mais informações sobre o meu pai que tinha acabado de ir pra UTI. Ainda assim, foi bom demais! São muitas coisas que eu nunca vou me esquecer, e até hoje me pego stalkeando a vida do Cris, do Nandão e do Gui pra ver como andam os "meus meninos" na empresa...
5- Aprender a falar igual gente. Essa, foi a mais importante de todas e devo, principalmente ao Preto (outro cara a quem devo tanta coisa que nem sei por onde começar). Antes de trabalhar lá, eu falava - e escrevia - "como advogado" e isso irritava tanto o Preto, que era comum ele dizer "Porra, Randas, fala igual gente"! E eu aprendi, ainda bem, pois ninguém suporta gente que fala igual advogado. Tanto isso é verdade, que o Tadeu, quando me apresentou no Rex, ressaltou isso como uma de minhas qualidades. Pode parecer besteira, mas conseguir mudar um comportamento arraigado exige muito mais do que a gente pensa... e eu sei é que valeu a pena!